terça-feira, novembro 02, 2010

Sabores da Terra








Muxi, coracão ao meu berço M´Banza, M´Banza Congo,
à nossa rebita, a Bela vista, a Ilha dos Amores,
o nosso Carnaval, o lombi, a kibeba, a kifufutila,
o rio Zaire, o Kwanza, safú, cabita, catatu, muxiluxilu,
ai tambarino, o nosso mea cura, as nossas farras de quintal,
a palanca negra, jilojo, mengueleca, reco reco, o kissonde,
a Vila Flor,
ao Bagre, ao nosso bagre fumado, os nossos mirangolos, a
nossa Kissama, Ah! Muxima, a perfumada nocha, a
kissangua,
o marufu, o mona xibata o peixe espada, a nossa chiquanga
o nosso feijão, kandange, olha imbondeiro, olha múkua,
a saca folha, nosso cachuchu, a ilha do Luanda,a
welwitchia, a ginguba e o bombó, o nosso pirão, atenção, a
rebita, cavalheiros a gauche, damas a droite,
primeira forma, vamos embora,- está quase bom, atenção,
a rosa de porcelana, a nossa marimba, o nosso funge, o
nosso batuque, a nossa batucada, o kissange, a nossa
moamba, as missangas coloridas,
a canjica,as águas milagrosas do Huamba, as quedas do
Kalandula, Chinguar, ai a puíta, o maboque, a nossa
moamba,vila flor, o reco reco, loengos, o ungo, o sape sape


Waldemar Bastos

sábado, dezembro 26, 2009

Fui feliz aqui...


















Foto aérea da cidade de M'Banza Congo em 2008.
A cidade alargou as suas fronteiras mas reconhecem-se os traços gerais da capital da Provincia do Zaire, mesmo que se recue no tempo três décadas e meia.

Os locais que habitei encontram-se assinalados.
Entre 72/73 na casa indicada com a seta a laranja.
Entre 73/74 onde está a seta amarela.

Bela cidade.

Lisboa perto e longe






1972, São Salvador do Congo, nesta altura do ano.
Na rubrica de "Discos Pedidos" a Rádio Voz do Zaire transmitiu a meu pedido esta belíssima canção de José Cid.
Era novo, a saudade do Puto ainda mordia...

"Aqui Portugal, Estado de Angola, de São Salvador transmite a Rádio Voz do Zaire" (Rádio Xifuta, na versão sarcástica dos estudantes da secção do Liceu Salvador Correia de Sá)

Na versão original a interpretação vocal era apenas de José Cid.
Curioso é o facto de esta versão integrar a voz e as violas de Waldemar Bastos, nascido em 1954, justamente em M'Banza Congo, ex-São Salvador do Congo.

terça-feira, julho 15, 2008

Alberto Teta Lando














Alberto Teta Lando faleceu ontem em Paris vítima de doença oncológica.
Natural de M'Banza Congo, onde nasceu em 1948 é oriundo de familia numerosa, com 32 filhos.
Escreveu a sua primeira música em 1964 e dois anos depois com a publicação do primeiro LP passou a integrar o grupo restrito dos melhores músicos angolanos.
Exilado em Paris entre 1978 e 1989, por ser confesso seguidor de Holden Roberto, regressa para integrar o Festival Nacional da Cultura (Fenacult), em Luanda.
Ao longo da sua vasta carreira de 44 anos obteve êxitos inesquecíveis como "Negra de carapinha dura", "Eu vou voltar" ou "Um assobio meu".
O seu último trabalho "Memórias" é uma colectânea das músicas escritas ao longo da sua carreira.
Ocupou desde 2006 o cargo de presidente da UNAC (União Nacional dos Artistas e Compositores).
Era casado e pai de três filhos.
Honra á sua memória e á sua obra.


São Salvador / M'Banza Congo

domingo, julho 13, 2008

De regresso...
















Aproximação ao aeroporto de M'Banza Congo

segunda-feira, julho 02, 2007

Mbanza Congo - péssimas notícias













A minha memória de Mbanza Congo, em 1972




Mbanza Congo regressou aos títulos de 1ª. página... infelizmente pelas piores razões.
O acidente com um Boeing 737 vitimou seis pessoas.
Apenas um milagre poderá terá impedido que mais mortes ocorressem.
Ainda bem que há... milagres!
A minha solidariedade para com os familiares das vítimas do acidente.


M'banza Congo é e será sempre um marco fundamental na minha vida.
O acidente trouxe-me á memória características únicas daquela pista, daquela lindíssima cidade e daquele povo portentoso e amigo.

O meu baptismo de voo aconteceu num voo de Luanda para Mbanza Congo, então São Salvador do Congo.























Um «enorme» DC3 da DTA, antecessora da TAAG levantou do Aeroporto Craveiro Lopes, hoje 4 de Fevereiro, escalou Ambriz, Ambrizete, Santo António do Zaire seguindo depois para São Salvador, antes de rumar a maquela do Zombo e regressar finalmente a Luanda.
Uma viagem inesquecível.

Recordo desse tempo as dificuldades que aeronaves de grande porte tinham para ali operar. O avião maior que por ali aterrava era o famoso «Barriga de Ginguba» - o Nord Atlas, militar.
Aviões de escala da DTA não recordo, ali, outro que não fosse o Dakota.

Lembro que a capital da Província do Zaire era, na altura, uma pequena cidade do interior, ameaçada pela guerra que não raramente passava não muito longe dos seus horizontes.

Rodeada de arame farpado por todos os lados, a sua extensão máxima correspondia, grosso modo, ao comprimento da sua pista de aviação - curta e estreita.

A «aerogare» não existia e todo o processo burocrático ligado ás viagens era efectuado numa loja de uma vivenda contígua á pista - a Casa Verde.

A pista do aeroporto tinha, no início da década de 70, características muito especiais. Dividia a cidade em duas, estando de um lado a «cidade branca» e do outro a «cidade negra», a sanzala.

Esta pista era talvez uma das únicas pistas onde de um lado para o outro da cidade circulavam livremente pessoas e veículos. Essa passagem situava-se junto ao CRESSA (Clube Recreativo de São Salvador).

O relato do acidente agora ocorrido recorda-me que um avião com a envergadura do DC3 passava com a ponta das asas sempre muito perto das casas, fossem elas, na altura instalações militares, a Missão Católica, a Catedral de São Salvador... ou as humildes casas de adobes de muitos amigos.
Qualquer incidente nestas circunstâncias pode tornar-se catastrófico.


Não me parecendo, pelos relatos que tenho, que a estrutura urbana á volta da pista se tenha alterado, mesmo que, como se sabe tenha sido melhorada e eliminada a tal passagem, fácil é admitir que uma pequena falha, tenha ela a origem que tiver, ponha em perigo a segurança da aeronave e de toda a zona urbana que ladeia a pista.

Admitir que aeronaves como a que agora sofreu o acidente escalam aquela pista assiduamente, por melhores que hoje sejam as condições, é sem dúvida uma proeza humana dos pilotos da TAAG!

Confesso que, mesmo antes do acidente, se me dissessem para regressar a Mbanza Congo num Boeing 737, o faria de imediato, sem pestanejar. Mas que, até aterrar em segurança, estaria absolutamente espectante quanto á possibilidade do «monstro» conseguir ali pousar, creiam que estaria...

Assisti, ali, a DC3 tentarem a aterragem e terem que abortar o processo, fazendo razante á pista, em aceleração muito próxima do Hospital Provincial, não muito longe do limite da pista, na altura assinalada com metades de bidãos de 200 litros.

A perigosidade daquela pista, fica patente na imagem de um outro acidente ali ocorrido em 1994, provavelmente por motivos idênticos, com um Boeing 727 da TransAfrik.




















Qualquer que seja o avião, quaisquer que sejam os riscos... aí voltarei, estou certo!

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Ó Angola meu berço do Infinito


Espigueiros, Maquela do Zombo (foto de Os nossos kimbos)




Ó Angola meu berço do Infinito
meu rio da aurora
minha fonte do crepúsculo
Aprendi a angolar
pelas terras obedientes de Maquela
(onde nasci)
pelas árvores negras de Samba-Caju
pelos jardins perdidos de Ndalatandu
pelos cajueiros ardentes de Catete
pelos caminhos sinuosos de Sambizanga
pelos eucaliptos das Cacilhas
Angolei contigo nas sendas do incêndio
onde os teus filhos comeram balas
e
regurgitaram sangue torturado
onde os teus filhos transformaram a epiderme
em cinzas
onde das lágrimas de crianças crucificadas
nasceram raças de cantos de vitória
raças de perfumes de alegria
E hoje pelos ruídos das armas
que ainda não se calaram pergunto-me:
Eras tu que subias montanhas de exploração?
que a miséria aterrorizava?
que a ignorância acompanhava?
que inventariavas os mortos
nos campos e aldeias arruinados
hoje reconstituídos nos escombros?
A resposta está no meu olhar
e
nos meus braços cheios de sentidos

(Angola meu fragmento de esperança)
deixai-me beber nas minha mãos
a esperança dos teus passos
nos caminhos de amanhã
e
na sombra d´árvore esplendorosa.)




João Maimona
In “Traço de união”